quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A banalização dos dons espirituais



— Este ano de 2011 não está sendo bom para ti. Mas, em 2012, tudo melhorará em tua vida! — disse um “profeta” a um novo convertido.
— Como assim? Jesus me salvou neste ano! — retrucou o cristão novel.
— Homem, não duvide! Eis que a bênção reservada para ti é maior que a salvação! — concluiu o pseudoprofeta.

O diálogo acima ilustra como os dons espirituais, especialmente o de profecia, têm sido banalizados em nossos dias. Há algum tempo, certo “profeta” foi desmascarado quando fazia revelações fraudulentas. Ao ser convidado para ministrar em uma igreja, o ludibriador memorizou informações dos membros da igreja, constantes do site de relacionamentos Orkut, a fim de usá-las durante a “pregação”. A farsa foi descoberta porque ele, além de se atrapalhar, citou os nomes dos irmãos de modo abreviado! Avisado de que citara errado o nome de uma irmã, ele respondeu: “Eu li assim”.


Grosso modo, os dons de Deus são capacidades, dotações sobrenaturais, com o propósito principal de edificar a igreja (1 Co 14.3,4,5,12,26; Ef 4.11-13). Através deles, o Senhor nos revela poder e sabedoria. Eles se manifestam de modo esporádico (1 Co 12.6-11) ou como ministérios (1 Co 12.28). Estes são residentes, permanecem nos salvos e dependem, evidentemente, da chamada soberana de Deus (Mc 3.13). Já os esporádicos estão à disposição de todo crente fiel, batizado com o Espírito (At 2.39; Rm 11.29). Cada servo do Senhor pode ser usado com o dom de profecia, mas nem todos podem ser pastores, visto que o pastorado não é uma manifestação momentânea, e sim um dom ministerial outorgado soberanamente por Jesus Cristo (Ef 4.11; Hb 5.4).


Se todos os dons são dados à igreja para o que for útil (1 Co 12.7; 14.28), por que ocorre a banalização dos dons espirituais? Por falta de conhecimento das doutrinas paracletológicas e, principalmente, por ausência de genuína comunhão com o Espírito Santo. É imprescindível o casamento entre os dons espirituais e o fruto do Espírito, para que o culto a Deus seja equilibrado, sem modismos e aberrações pseudopentecostais. O amadurecimento do fruto ocorre gradativamente, de acordo com a disposição do coração do salvo. Trata-se de um aperfeiçoamento espiritual (2 Tm 3.16,17; Ef 4.11-15).


Os dons espirituais são perfeitos. Mas muitas pessoas, por falta de verdadeira comunhão com o Espírito Santo, fazem mau uso deles. Como os perfeitos dons do Espírito edificarão a igreja se não houver mudança interior em cada salvo? Se dermos ênfase apenas aos dons, em detrimento do fruto do Espírito, males ocorrerão na igreja, como: dissensão, carnalidade, egoísmo, desordem, indecência e mau uso dos dons espirituais. Não é isso que temos visto? A banalização é tão grande que há pseudoprofetas trocando mensagens em línguas estranhas nas redes sociais, como Twitter, Facebook e Orkut! E isso é um prato cheio para os escarnecedores de plantão.


Fruto do Espírito designa a ação do Espírito Santo na vida do crente, a partir do primeiro momento de sua conversão (Ef 1.13,14), a fim de moldar o seu caráter (Gl 5.22; Ef 5.9; Cl 3; 1 Pe 5.5; 2 Pe 1.5-9). Em 1 Coríntios 14.32, vemos que os espíritos dos profetas devem estar sujeitos aos próprios profetas. Ou seja, o crente controlado pelo Espírito tem equilíbrio, domínio próprio e discernimento. Ao amadurecer dentro de nós, o aludido fruto nos impede de abraçar aberrações como “cair no Espírito”, “unção do riso”, “unção do leão”, “unção da lagartixa”, “unção dos quatro seres”, “unção da loucura”, “unção dos doze cântaros” (invencionice pela qual se derrama doze jarras de óleo sobre a cabeça de alguém), etc.


O que diz 1 Coríntios 14 a respeito dos dons espirituais?


Na igreja de Corinto, boa parte dos crentes não priorizava o fruto do Espírito (1 Co 3.1-3). Havia ali membros controlados pelo Espírito Santo (1 Co 1.4-9), mas muitos eram carnais (1 Co 13.1). O que Paulo escreveu àquela igreja, em 1 Coríntios 14, visava ao combate da banalização dos dons espirituais. Consideremos sete princípios contidos na aludida passagem neotestamentária.


Primeiro. O propósito principal da manifestação do Espírito em um culto coletivo a Deus é a edificação do seu povo (vv.4,5,12). Risos intermináveis e supostas quedas de poder edificam em quê?


Segundo. A faculdade do intelecto não pode ser desprezada no culto em que o Espírito Santo age (vv.15,20). Ninguém genuinamente usado pelo Espírito deixa de raciocinar normalmente, em um culto coletivo a Deus.


Terceiro. Um culto a Deus não deve levar os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (v.23). O que pensam os não-crentes que assistem a certos vídeos disponíveis no site YouTube, nos quais vemos pessoas caindo ao chão, rindo sem parar, rosnando, latindo, mugindo, uivando, rugindo, rolando umas sobre as outras ou derramando grande quantidade de óleo sobre as suas cabeças?


Quarto. O culto coletivo deve ter ordem e decência; tudo deve ocorrer a seu tempo: louvor, exposição da Palavra, manifestação do Espírito (vv.26-28,40). Um culto que não tem ordem e decência é dirigido pelo Espírito?


Quinto. No culto genuinamente pentecostal deve haver julgamento, discernimento, a fim de se evitar falsificações (v.29; Jo 7.24; 1Co 2.15 e 1Jo 4.1).


Sexto. Haja vista o espírito do profeta estar sujeito ao próprio profeta, é inadmissível que aconteçam manifestações consideradas do Espírito Santo em que pessoas fiquem fora de si (v.32).


Sétimo. Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, deve reconhecer os mandamentos do Senhor (v.37). Você está disposto a submeter-se aos mandamentos do Senhor? Ou é um daqueles que dizem: “Não podemos pôr Deus em uma caixinha”? Ora, não é a Bíblia a nossa fonte principal de autoridade? Ou perderam as Escrituras o primado? Não é mais a Palavra do Senhor a nossa regra de fé, de prática e de viver?


Que em 2012 valorizemos ainda mais a nossa gloriosa salvação e as bênçãos que a acompanham (Hb 6.9). E não nos enganemos. O verdadeiro avivamento só ocorre quando há submissão à Palavra de Deus e ao Deus da Palavra, além de comunhão com o Espírito Santo, que age em perfeita harmonia com as Escrituras.


Ciro Sanches Zibordi

Artigo publicado no jornal Mensageiro da Paz de dezembro de 2011

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